Seu prédio não tem coleta seletiva? Veja o que fazer

Por Carolina Muniz

Todo condomínio com 50 unidades ou mais precisa fazer a separação do lixo reciclável. Pelo menos, é o que diz uma lei em vigor há 11 anos no estado de São Paulo.

Mas a regra não pegou. “Nunca vi um condomínio ser punido por falta de coleta seletiva”, diz Ricardo Karpat, síndico profissional e sócio da Gábor RH.

A consciência ambiental é, então, o que mais tem motivado os edifícios residenciais a aderir à prática.

Se seu prédio ainda não faz a separação, o primeiro passo é tentar arrebanhar outros moradores para a causa —principalmente o síndico.

Segundo Kapat, ele pode implantar a coleta seletiva sem consultar os condôminos, mas o melhor é que leve o tema à assembleia, até para conseguir engajamento. Afinal, se ninguém separar o lixo, o esforço terá sido em vão.

Depois de aprovado, o ideal é que se forme uma comissão para tomar conta do projeto. O Instituto Gea, que auxilia na implementação de programas de coleta, disponibiliza no site institutogea.com.br um manual, com planilhas e cartazes para imprimir.

Mas não vale a pena começar a separar o lixo sem antes ter bem definido quem vai recolher os materiais: se a prefeitura, cooperativas, carroceiros, ONGs ou empresas.

“Será um trabalho inútil, que pode, inclusive, desmotivar os moradores”, afirma Ana Maria Luz, ambientalista e presidente do instituto.

Além disso, um serviço de coleta pode retirar materiais diferentes de outro —poucos aceitam isopor, cuja venda é menos rentável, por exemplo.

É preciso informar moradores e funcionários sobre o que será enviado à reciclagem para que a separação seja efetiva.

Agora, se o condomínio se negou a aderir à coleta seletiva e você está sozinho na empreitada, de nada adianta separar os itens recicláveis e esperar que algum catador os encontre no meio do lixo.

“Vai gastar tempo e até água para lavar os materiais sem resultado algum para o meio ambiente”, diz Ana Maria.

A seguir, veja opções para dar a destinação correta do lixo reciclável, seja em condomínio ou por conta própria.

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Prefeitura
O primeiro passo é verificar se a coleta da prefeitura passa pelo condomínio. Em São Paulo, isso pode ser feito pelo canal 156 ou pelos sites das concessionárias que prestam esse serviço na cidade, a Loga (loga.com.br) e a Ecourbis (ecourbis.com.br).

É só ver a lista de bairros atendidos pelas concessionárias e colocar o CEP ou o endereço para saber dia e horário da retirada do lixo na sua rua. Em geral, a coleta é feita uma vez por semana, mas é bom ficar de olho para saber se, de fato, ela está sendo realizada.

O condomínio ainda pode solicitar, tanto pelo 156 quanto pelas concessionárias, um contêiner para armazenar os materiais. Segundo a Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), até o fim do semestre será concluída a universalização da coleta seletiva em toda a cidade de São Paulo.

Cooperativas
Muitas cooperativas de catadores têm serviço de coleta em condomínios. No site do Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), é possível pesquisar cooperativas em várias cidades do país e também saber com que materiais elas trabalham (cempre.org.br). Quem estiver por conta própria pode levar os recicláveis até a cooperativa mais próxima.

Instituto Muda
Desde 2007, trabalha com coleta seletiva em condomínios residenciais. Faz o projeto, treina moradores e funcionários e fornece todo o equipamento necessário, como contêineres ecológicos, feitos de tubos de pasta de dente. Com duração de um mês, a fase de implementação não é cobrada.

A retirada dos materiais pode ser feita uma ou até cinco vezes por semana, dependendo do tamanho do condomínio. Coleta também eletrônicos, pilhas, baterias, cartuchos de impressora e óleo de cozinha.

Em prédios com até 35 unidades, o serviço sai por R$ 350 por mês. Acima disso, custa R$ 10 por apartamento. Os materiais são doados a cooperativas. Atua nas cidades de São Paulo, Santo André, Diadema e São Caetano do Sul; institutomuda.com.br

Kombosa Seletiva
É um coletivo formado por ex-carroceiros que se profissionalizaram e, hoje, coletam materiais em condomínios e empresas, com o auxílio de três veículos grafitados, as kombosas. O serviço inclui visita técnica, implantação e relatórios mensais com o que foi coletado e a sua destinação.

Aceita todo tipo de material que possa ser reaproveitado ou reciclado —até mobília e isopor. O custo varia de acordo com o prédio. Um condomínio com 120 unidades, por exemplo, tem duas retiradas semanais, a R$ 110 cada uma. Atende toda a cidade de São Paulo; kombosaseletiva.com.

Cataki
Criado pela ONG Pimp My Carroça, o aplicativo conecta catadores com pessoas que querem descartar recicláveis. Funciona assim: o usuário abre o mapa e vê ícones que mostram os carroceiros mais próximos de onde ele está.

Ao clicar em um deles, aparecem nome, foto, telefone, materiais aceitos e até a história de vida do catador. Disponível para Android e iOS, a ferramenta é gratuita. É recomendado, porém, que o usuário combine com o carroceiro um valor a ser pago pela retirada. Há 650 catadores cadastrados em 135 cidades brasileiras, mas o maior número concentra-se em São Paulo, Recife e Rio de Janeiro.

Recicle Mais, Pague Menos
O programa da Eletropaulo oferece desconto na conta de luz para quem levar recicláveis aos pontos de entrega (veja lista aqui). Os materiais —papel, metal, plástico, vidro e embalagens Tetra Pak— são pesados e precificados. O consumidor ganha um cartão de adesão, e o valor vira bônus na próxima fatura de energia.

Em seis anos, o projeto concedeu R$ 785 mil em créditos e reciclou mais de 6.000 toneladas de resíduos.

Pontos de entrega voluntária
Em São Paulo, existem mais de 1.500 locais onde é possível depositar materiais recicláveis. Ficam em parques, postos de gasolina e supermercados. Para saber onde fica o ponto mais perto da sua casa, é só ligar no canal 156 da prefeitura ou entrar em contato com as concessionárias Loga e Ecourbis.

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DÚVIDAS DE RECICLAGEM

É preciso ter lixeiras diferentes para papel, metal, plástico e vidro?
Não. Em alguns países, de fato a coleta é seletiva: passa um caminhão para recolher cada tipo de material. No Brasil, a seleção é feita em cooperativas ou centrais de triagem, que separam os materiais em mais de 20 tipos. Então, investir em quatro lixeiras diferentes para recicláveis é gastar dinheiro, espaço e esforço à toa. O importante é separar em lixeiras diferentes o que pode ser encaminhado à reciclagem e o que não pode. E isso varia de acordo com o serviço que vai buscar o material no condomínio

É necessário mesmo limpar o material antes de enviá-lo à reciclagem?
Sim. É preciso higienizar as embalagens sujas com restos de alimentos, como latas de leite condensado e copos de requeijão. Isso é importante principalmente em razão do tempo de armazenamento —em geral, a retirada dos materiais é feita semanalmente. Mas o ideal é gastar a menor quantidade de água possível para fazer essa limpeza. Uma ideia é utilizar guardanapos já usados ou água de reúso, como a que sai da máquina de lavar roupa. No caso de garrafas pet e de vidro, basta retirar todo o líquido. Caixas de pizza podem ser enviadas à reciclagem desde que não estejam muito sujas e engorduradas

Isopor é reciclável?
Sim, o problema é que pouca gente o recicla. O volume dos itens é grande, o que exige uma máquina para compactá-los. Isso tudo faz com que essa venda seja menos rentável para cooperativas e recicladoras. Em São Paulo, uma das únicas cooperativas que aceitam isopor é a Cooper Viva Bem, na zona oeste (tel. 3644-6867). Se não for reciclado, o material pode demorar 400 anos para se dissolver no meio ambiente

Se houver divisão de lixeira, embalagem metalizada de salgadinho vai na de plástico ou metal?
Em nenhuma das duas. Apesar dessas embalagens serem recicláveis, elas quase não são recicladas aqui no Brasil, porque demandam um cuidado maior e têm baixo valor para venda. Para que não sejam descartadas no meio ambiente, o ideal é tentar evitar o consumo

Fontes: Ana Maria Luz, ambientalista e presidente do Instituto Gea, e Alexandre Furlan Braz, fundador do Instituto Muda